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Cap. 295

— Ser feliz? Não sei se serei feliz. – responde Cedro Vermelho para sua mãe.

— Talvez eu não tenha mais direito de ser feliz, ou talvez eu e Chuva Quente tenhamos desistido de esperar pela felicidade.

— Tentamos muito, sofremos muito e perdemos mais ainda, então, se for para sermos infelizes, que, pelo menos, sejamos infelizes juntos.

— Não sei se é o mais certo, mas é o que eu quero. E espero que seja a escolha dela também.

— Como resistir a uma proposta dessas? – debocha Lua da Raposa, ciente de que seu filho não se tornou o chefe de sua tribo graças à sua eloquência.

Aparentando descontentamento, a anciã continua:

— Então você irá viver com essa mulher agora?

— Não! – surpreende novamente a todos o chefe. — Viverei com Chuva Quente, a minha mulher.

O nativo olha para Chuva Quente que não parece muito satisfeita com o “minha” dito por ele, que tenta corrigir:

— Caso ela me aceite, depois de tanto tempo e de todos os meus erros e de tantas bobagens que eu fiz para ela e de todos os absurdos que eu disse a ela e de…

— Pode parar! - concede Chuva Quente.

— Então, você aceita? – pergunta um esperançoso chefe.

— Vamos nos despedir de nossa querida Nokomis. Falamos sobre família depois. – responde serenamente a nativa, já se dirigindo para a cachoeira.

“Eu mereci isso”, aceita Cedro Vermelho, agora olhando para sua mãe à espera de uma nova pancada.

A anciã apenas se vira e sai andando rumo à cachoeira, chamando com a mão seus hóspedes para que a sigam.

Augustus é quem mais se aproxima dela.

Sem ter entendido a conversa, o delegado, curioso como sempre, resolve perguntar:

— A senhora está bem? Está com uma expressão estranha no rosto.

A anciã responde em um tom baixo, quase que para si mesma:

— É bom ver, finalmente, um filho começando a se tornar um homem, mesmo tendo demorado tanto tempo.

Augustus sorri: — Imagino. Espero, um dia, também poder me sentir assim.

É vez de Lua da Raposa sorrir e, gentilmente, passar as costas da mão pelo rosto do delegado com um olhar cheio de uma doçura quase triste.
 

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